sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ


"Ensaio sobre a Lucidez" é uma das principais obras do saudoso escritor, português, José Saramago. Foi lançada em 2004.

Nessa obra, o autor estabelece uma representação realista e dramática da grande questão das democracias no mundo: serão elas verdadeiramente democráticas? Representarão nelas os cidadãos, os eleitores, um papel real, e não apenas meramente formal?

Saramago ainda desenvolve uma crítica mordaz às instituições do poder político: "sob a democracia podem estar vetores de natureza autoritária - lúcido é quem os enxerga".

Polêmico contumaz que era, ao lançar esse livro teve como objetivo levantar essas discussões e na época prometeu gerar mais "desassossego" que sua obra lançada em 1991: "O evangelho segundo Jesus Cristo".

Segue abaixo um trecho interessante do livro que retrata essa análise:

"Num país qualquer, num dia chuvoso de votação, poucos eleitores compareceram para votar, durante a manhã. As autoridades eleitorais, preocupadas, chegaram a supor que haveria uma abstenção gigantesca. À tarde, quase no encerramento da votação, centenas de milhares de eleitores compareceram aos locais de votação. Formaram-se filas quilométricas, e tudo pareceu normal. Mas, para desespero das autoridades eleitorais, houve quase setenta por cento de votos em branco. Uma catástrofe. Evidentemente que as instituições, partidos políticos e autoridades, haviam perdido a credibilidade da população. O voto em branco fora uma manifestação inocente, um desabafo, a indignação pelo descalabro praticado por políticos pertencentes aos partidos da direita, da esquerda e do meio. Políticos de partidos diferentes, mas de atuações iguais, usufruindo de privilégios que afrontavam a população. Os eleitores estavam cansados, revoltados. Os governantes, sentindo-se ameaçados, trataram de agir em nome da ordem, perseguindo, prendendo, maltratando, eliminando. Alguns que viveram os horrores da cegueira branca, novamente sofreram. Os governantes, preocupados em salvar a própria pele, em garantir o poder, não perceberam que a cegueira branca de outrora, demonstrativo de que há muito o homem estava cego, tinham paralelo com o voto branco de agora, indicativo de que a população não perdera a lucidez. Estranhamente, não houve uma mobilização para o fato".

Afinal de contas, vivemos em um Estado Democrático de Direito??? 

Essas pessoas retratadas nas imagens abaixo estavam apenas exercendo o seu livre direito de manifestar contra a situação vigente em seu país, em que nada funciona! Saúde, educação, transporte, tudo um LIXOOOO. E vejam só como são tratados pelo Estado "Democrático" Brasileiro. Cabe destacar que as pessoas que estão sendo agredidas, não são bandidos, tá? O primeiro é um professor, o segundo é um cinegrafista de uma emissora de televisão, o terceiro é um advogado e a última, uma jornalista.

Onde está a Democracia nessas imagens???


Aqui você poderá observar como as pessoas foram retiradas de suas casas que ficavam nas proximidades dos estádios que passaram por reformas para receber a Copa do Mundo, no estilo brasileiro de ser, sempre limpando a sujeira pra debaixo do tapete!

Destaque para o Maracanã

Link => https://www.facebook.com/photo.php?v=282262928578010

Após assistir o vídeo, me digam! Encontraram traços de democracia aí???

Aproveitei esse gancho dado pela estória narrada no livro apenas para promover uma reflexão sobre tudo o que vivemos nesse "país das maravilhas". E diga-se de passagem: a Alice daqui é horrorosa!

Mas enfim, esse livro é bastante interessante pra quem gosta e costuma fazer esse tipo de questionamento. 

Finalizo com uma citação de uma outra obra do Saramago, "Ensaio sobre a cegueira", que inclusive deu origem a essa que acabamos de fazer uma breve análise.

Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem".
(José Saramago)

 HENRI PIMPÃO

Um comentário:

  1. Sensacional Henrique, uma reflexão muito profunda que dó na alma, afinal estamos vivendo neste país das maravilhas que só Alice enxerga.

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